sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Passagens

O mar reflete a cor dos meus olhos
Tramandaí é linda nos dias de inverno..

E nesse suingue ventoso
A multidão se envolve no mesmo vagão
Uns claros, morenos, altos e baixos
Humanos são como células
Multiplicam-se fácil e reconstituem funções perdidas

Em trancos e barrancos me perco dentro de casa
As roupas misturadas, cama amarrotada.
Quem é dono de si, no mínimo vestígio de desordem?
E tudo, mas tudo se configura exatamente como antes
Junto, perdido e mistificado..

Pego o trem para ir..
Mas de fato, onde é a minha casa?
Sinto como se houvesse duas vidas paralelas
Uma nas rosas e a outra nas pichadas passarelas..
Qual horário de ônibus lotado posso pegar?

Quero voltar ao lar..
Passagens insignificantes de papéis
Indicam o caminho desejado
Mas, e se eu não quisesse?

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Mansão abandonada

O que consome o dia se não a noite?
Fotografias do tempo impactado refletem as cenas
Naquela mansão me tornei as escadas
A sacada e o chão
Sem luz elétrica, os vultos voavam como relâmpagos
As portas se abriam sem nada nelas existirem
E as passagens secretas se dissolviam com o vento..
Lua cheia brilhava e o vinho embriagava
O que foi real?
O que é real?
Passado não se volta, apenas nossos passos..
Há vida na nova trilha, tão bela quanto o sol
Me despedi e me despeço do antes

Agora reconstruo primeiramente pelos tijolos 
E a cada dia concretizo mais a nova casa
Desfazer e abandonar 
Eis um sentido sensorial do desapego

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Av. Augusta

Caminhava na Augusta
Sentia-se a terrível angústia
Da comunhão do pecado
Transcendente da corrente benevolente
Inundada de monstros imaginários
Seria um autista o Criador?
Ou um indomável desejo invisível o destruidor?
Acorrentando o apego no ego
Dissimulando a lucidez do insano
Transforma-se o acaso do caso em profano..

O que seria do equilibrista da vida
Sem a senda do fio da navalha
Dividida em terços de encontro e despedida
Angariada no peito o nobre anseio
Quem dera que no caminho houvesse retas
Mas em círculos e curvas se cumprem as metas
Lenta e progressivamente..
O tempo que se anda na avenida..
Assim se vão os passos perdidos de debutante na noite diurna..

No mais profundo sonho dormi acordada
Transitei no plural de seres que em mim haviam
Em planos sequenciais de existência
Oriundas de ausências por excelência
O oco do imutável sabor de amargor
Derretia a vitória em dor
Miserável e bendito seja o escolhido templário
Erudito e mago do bem mais precioso do palácio
Castelos de areia aguentam imensas tempestades
Transição de ventos e calafrios permanecem instáveis

A guerra é a incessante batalha pela vida
Sendo a espada do cavaleiro uma fiel e escudeira
Na vigia e na orgia

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Lótus de mil pétalas

Ninguém disse tudo
E todos disseram nada
O mundo interno, sutil e transmutado
Volta-se contra o gigante santificado
O clamor do anonimato torna a vida plena
A ceia com pão e vinho
Exalta a divina criação da insubstituível morte serena
Ó Mãe Ísis que nenhum mortal levantou o véu de linho
Agracia-me com a irrevogável fonte eterna da imortalidade
Tanto nobre quanto a lótus de mil pétalas
És a vida sendo guiada com liberdade
O real já se torna suportável aos olhos de deuses
Que destoam as camadas das diversas peles
Animais, monstros, humanos ou sábios
Ninguém disse tudo
E todos disseram nada


Obs.: Leiam de baixo para cima também

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Santo Graal

Todos parecem iguais de longe..
Transitando com sonhos na estrada
Ambiguidade pura na solidão do deserto incerto
Grãos.. Cooperando no manifesto
Saudosa devoção individual..
Versos de tempestades que respiram ritmados
Explorados com o suor da alforria angelical

A honra do desonrado vértice árido  
É o mérito sendo procrastinado
Inabalável insanidade translúcida
Fonte inesgotável de seres etiquetados

Romarias ao céu viram opção do caduceu de Baal
E quem de fato pertence a linhagem do Santo Graal?
Mecânicas ondas frenéticas se oscilando

Assim como nós humanos 
Vivendo e simulando

O arame farpado esfarrapando nossos farrapos
Não nos deixam mais marcas
Como o corte nobre da carne de segunda do pobre
As linhas de ferro que conduzem os trens ao
Desconhecido,
Quando no fim se cruzam, é como se nada houvesse existido

Nem rostos, nem corpos, nem sorrisos
O tempo transpõe o medo incumbido

Prestígio Insurgente

Me sinto presa no casulo
De declínio nulo e oriundo
Do prestígio insurgente 
Da vida hostil no asilo caliente
O desprezo é uma arma de fogo
Nas nossas mãos etérias e maléficas
Casmurros, quanta miséria na modéstia
Observo o ápice da impotência
E o demônio (grande amigo) da superação..
Sonhos que sondam o profundo inconsciente
Revelam formas de uma maldição
Obrigue seu escravo corpo animal
A não sentir desejo carnal
E verás que o anseio da recompensa
Te aprisiona no próprio ego por excelência